É só ódio aqui. É só ódio em todo o lado.
As pessoas odeiam-se porque se amam. As pessoas amam o seu ego e odeiam o ego dos outros.
Na sua falsa imperatividade, imposta por uma bata branca desmerecida, pela falta de contacto e sensibilidade, chamam-te irresponsável sem cruzar o olhar com o teu. Do nada, deves tudo o que és, e não voltarás a ser ninguém porque a dívida da tua vida tem juros infinitos. Não podes ser mais do que o ser débil, pálido e nu que foste forçado a ser, para que um dia voltasses a ti (já sem seres verdadeiramente tu).
“Vai de um milímetro ao próximo, a minha paciência para os problemas que me apresentas e que nunca terei. A mim que me importa, afinal?”
“Eu sou o grande. Eu sou maior! Eu destaco-me em tudo! Sou senhor de todas as minhas faculdades e renego distúrbios à minha alteza. Vocês, pobres infelizes, fracos e burros: sirvam-me, funcionem por mim enquanto eu cago do alto. Façam o trabalho sujo enquanto me banho na glória que vos roubo por ser tão pequena a minha capacidade.”
A vós que vos falta, ó grandiosas merdas ambulantes? Para despirem essa capa nojenta de egoísmo?
Chego a casa de ombros rijos como pedras depois de deambular pela loucura em que nos mergulhámos. Coço-me de ansiedade pela falta de um simples pensamento altruísta. Somos canibais que vivem em tribos: nos nossos ninguém toca e os outros são comida e ameaça.
Que critérios definem quem são os nossos? Os de sangue? Não, nem todos. Muito mais vezes são os outros os nossos e muito mais depressa o predador passa a presa.
Então quem és tu?